quinta-feira, março 02, 2006
Encontrava-me sentado numa amável almofada cor de malmequer a comer uma estaladiça craker, que cheirando a alho me fazia lembrar os vagarosos tempos passados no meio do atlântico, quando de repente eles entraram. Por entre a névoa consegui distinguir barbas por fazer, brincos, tatuagens e tudo o mais que me distinguia inexoravelmente dos grandes Piratas. Um deles sentou-se logo ao meu lado dando ares de pouco interessado na conversa que escorregava com o vinho. De qualquer forma indaguei: -"You are the spanish friend of Leni?". -"Não, eu sou grego! Estou cá em erasmus desde setembro"
Isto num português que surpreenderia qualquer um no meu lugar. Palavra puxa palavra e ao fim de um belo bocado de tempo os sorrisos e as conversas eram já verdejantes no prado de tulipas (de amesterdão) que era aquela mesa.
Nisto, consigo a muito custo parar de falar com o camarada grego e abstrair-me de aquilo tudo, para mais uma vez concentrar-me invariavelmente em pensamentos vagos baseados em observações criteriosas dos que me rodeiam. E tenho uma visão. Uma visão muito particular, muito minha portanto. Eu há cerca de 3 anos atrás, um petiz, a entrar numa casa de um desconhecido qualquer, sentar-me á mesa como um lord e comer beber e conversar como se não houvesse amanhã. Aliás amanhã há mais não é (era?) assim? Onde tudo era respeitado e o que importava realmente eram as pessoas.
E esta barba? Esta ar de sábio que a experiência ensinou? Onde está esse rapaz? Era eu? Já nem tenho a certeza disso agora que me encontro fechado nesta sala escura sem janelas, sem prados verdes, sem sorrisos .. sem algo onde me agarrar
Será que este homem grego que me está a sorrir com ar de idiota vai um dia estar aqui, nesta cadeira, e pensar o mesmo? Será que um homem liberal demora mesmo 20 anos a tornar-se conservador sem mudar uma única ideia? Acredito mesmo que não ...
|  "de 28 em 28" - lisboa Fev 2006 |
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não penses nesta palavra
alalia
do Gr. a, priv. + lalia, fala
s. f., Med.,
paralisia dos órgãos da fala;
mutismo acidental.
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não penses nesta letra
Hereditário - Sam the kid
Não sei se sou um plano ou um acidente com tesão,
Originado com paixão ou com sexo pós discussão,
Na raiz urbanizada na calçada e no alcatrão,
Não te esqueças de onde vens ou és esquecido então,
Eu só ponho uma questão, qual é a razão da minha
origem,
Não te fies na virgem, porque elas fingem e não
dizem,
E caso case ainda te acusam do que trazem,
O ladrão da paz e harmonia fácil empatia,
Com a máxima ironia, omitindo medos,
Paredes têm ouvidos construídos para segredos,
Quando é que tu desabafas?
Depois de 3 garrafas de vinho, ou 20 palavras que eu
não adivinho,
Enquanto a dor ecoa, habituado a que ela doa,
Porque quem amamos mais é quem nos mais magoa,
Ah! Amar e amar, há ir e nunca mais voltar,
Ao lar doce lar até que a morte ou uma traição
separe,
Mentiras omitidas é estranho é quando ocultam cenas,
A paz é singular ou há discussões às dezenas,
Sem qualquer motivo o final nunca é conclusivo,
Apenas um alivio assinado num livro, de onde eu
derivo,
Agora mais vivo, tornei-me no que eu sou,
Dou e recebo e se eu bebo bué é porque saio ao meu
avô,
É hereditário fluxo sanguinário que se transmite,
Ele sai a quem, feio ou bonito podes dar um palpite
que eu não me irrito,
Espaços da casa não ocupados trazem saudades e pensar
nisso é que eu evito,
Eu divido o tempo, na TV noutro evento,
Para não pensar em ti e fazer passar a dor como um
dente,
E toda a gente pergunta, a quem é que ele sai? A quem
ele sai?
Sou má goela porque eu saiu ao meu pai,
E toda a gente pergunta, ele sai a quem? Sai a quem?
Se acordo tarde é porque eu saiu à minha mãe,
Mas ta-se bem não há beef nunca houve desde novo,
Sem confirmação na comunicação e sem interesse,
Na certeza do amor, com a ausência da razão que eu
desconheço,
Não me convence,
Menciono o plano, de ter o nono ano,
E eu bano o resto eu manifesto-me através do som,
Converso em verso comigo e com o beat,
Com pitt no cubículo onde fico horas sem pressas e sem
demoras eu,
Pareço um ótario operário no meu endereço,
A preço ofereço um corpo solitário preso,
Em posse duma trombose,
Super avozinha fodeu a minha Susana tu chama os
bombeiros,
Mas a vida não para e avança como ponteiros,
Eu contei os anos inteiros até à mudança,
Tolerância cancelada e descansa enfermeiros,
E os primeiros pensamentos são de assumir uma
herança,
Em criança numa casa portuguesa com certeza,
Manca-me debaixo da mesa com a mão presa à cabeça,
A pensar que não aconteça e valesse a pena a batalha,
E eu quebro a cena, tal pai tal filho, tal pai tal
falha,
Não conheço um posto para fazer um juízo,
Porque isto nunca foi penoso isto é o meu paraíso,
E eu economizo ao comunicar isto em concreto,
E eu fico indeciso se eu quero ficar vazio ou
completo,
A mim não me compete fazer a escolha,
Só escolho fragmentos de momentos duma recolha,
De sentimentos, e eu sento e minto se eu disser que
não sinto a tua falta,
Sinto a ausência duma falta de paciência que te
exalta,
Ou exaltava, porque agora silêncio é despertador,
Que desperta humor desperta a dor em mim que eu....
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